terça-feira, 21 de junho de 2011

Matéria Gazeta do Povo, Junho 2011





Lançada em outubro de 2009, a primeira edição da publicação curitibana Revista Lama foi fruto de uma obsessão de seu idealizador, o designer Fabiano Vianna, 35 anos, pelo papel. Apesar de ter o computador como ferramenta de trabalho, Fabz, como é conhecido, sempre teve fascínio por revistas antigas, em especial as de fotonovelas pulp, traduzidas e publicadas no Brasil nos anos 60 e 70. Impressas em papel barato e proibidas para menores de 18 anos, essas publicações reuniam contos de terror, suspense, crimes, detetives e até tramas de realismo fantástico, devidamente ilustradas por desenhos ou sequências de fotografias em preto-e-branco.

Com o intuito de instigar a produção de uma literatura pulp brasileira, Fabz convocou amigos e colaboradores para a produção do primeiro número da Lama, cuja tiragem, bancada por ele, foi de 1 mil exemplares. O resultado foi impressionante. “Divulgamos a revista no Twitter e recebemos muitos contos de pessoas dispostas a colaborar, de todas as partes do país e até de Portugal”, conta o designer, citando ainda lançamentos bem-sucedidos em livrarias de São Paulo e Rio de Janeiro.

Hoje, quase dois anos depois dessa primeira empreitada, a Lama lança oficialmente sua segunda edição no Café Quintana, com os primeiros anunciantes e a bênção de seus principais mestres. Entre os contos presentes no novo número, estão “Escroto e Bandalho”, de Dalton Trevisan, e o inédito “Morte Lucrativa”, de Valêncio Xavier (1933–2008).

Ao receber um exemplar da revista acompanhado de uma pequena carta, Trevisan, que frequenta uma livraria vizinha ao escritório do designer, se surpreendeu com o que viu e autorizou a publicação de qualquer uma de suas histórias na revista. Já o texto inédito de Valêncio saiu de uma pesquisa feita por sua filha, Ana, amiga pessoal de Fabz, no acervo deixado pelo escritor. “Ela disse: ‘meu pai adoraria ver seu nome na Lama’”, lembra Fabz, entre risos.

Paralelamente à revista, Fabz continua a publicar fotonovelas no site www.crepusculo.com.br, que, em breve, deve se unir à página da revista na internet (www.revistalama.com.br). Na segunda edição, Luiz Felipe Leprevost e Marcos Novak estrelam “Tocaia”, fotonovela com roteiro e direção de Fabz e direção de fotografia de Bruno Zotto (baterista da banda Dissonantes).

No lançamento de logo mais, além de poder adquirir um exemplar da Lama, os presentes poderão conferir uma das raras apresentações da banda Drinks Baratinhos, projeto que interpreta canções escritas por Leprevost, que toca acompanhado dos músicos Ale Rogoski, Diego Perin e Thiago Chaves.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Revista da Cultura



Revistas literárias, especialmente aquelas voltadas para a publicação de contos, sejam eles de autores novatos ou veteranos, são verdadeiras raridades. Vivem alguns números, ficam escondidas no fundo das bancas e acabam sumindo. No começo do século 20, no entanto, a situação era bem diferente. Logo de manhã, os trabalhadores, com suas pastas debaixo do braço e chapéus na cabeça, paravam em bancas de jornais em busca de literatura.

Por mais incrível que pareça, era exatamente assim que tudo funcionava para as revistas pulp. Em vez de jornais fresquinhos do dia ou revistas ilustradas, o que tinha destaque nas bancas eram justamente essas publicações baratas, que raramente passavam de 25 centavos de dólar, responsáveis pela divulgação de literatura fantasiosa.

Tanto o nome quanto o preço reduzido se devem ao papel de baixa qualidade, feito da polpa da árvore, em que essas revistas eram impressas. Por isso, elas se tornavam amarelas rapidamente e não era difícil rasgar as páginas durante a leitura.

A primeira revista genuinamente pulp surgiu em 1896. A Argosy Magazine, editada por Frank Munsey, não tinha nenhuma ilustração e representou boa opção de diversão a preços extremamente baixos. A “sofisticação” apareceu mais tarde, com The Popular Magazine, lançada em 1903 pela casa editorial Street & Smith. Grandes escritores, como H. Rider Haggard (autor de As minas do Rei Salomão) e Edgar Rice Burroughs (criador da personagem Tarzan) tiveram seus contos publicados nela. A partir de então, as pulp magazines proliferaram.

Seu formato definitivo também veio na sequência, com revistas como Weird Tales, Astounding Science Fiction e Black Mask. Uma das características mais notáveis era o design das capas. Invariavelmente, elas continham donzelas em perigo, heróis valentes e vilões terríveis, sempre em ilustrações coloridas e chamativas.

O problema com elas era a falta de credibilidade. Graças aos temas tratados (desde monstros terríveis até cavaleiros de capa e espada, passando por detetives de segunda linha e mulheres em perigo), os críticos literários sempre consideraram a ficção produzida nessas revistas algo “menor”. Certa vez, o ácido jornalista H.L. Mencken escreveu um artigo (presente na coletânea O livro dos insultos de H.L. Mencken) em que defendia Mark Twain. Segundo ele, em comparação com Twain, qualquer escritor parecia “a moçada que escreve em revistas pulp”. Essa ideia pejorativa era amplamente divulgada na época. Graças a isso, foram poucos os escritores dessa “moçada”

TALENTOS REVELADOS
Verdade seja dita: grande parte do que se publicou nas pulp consistia em histórias simples, repletas de clichês, com pouco comprometimento literário sério. Por outro lado, essas revistas serviram de laboratório para muitos escritores realmente bons, que só teriam seu valor

Um dos casos mais famosos é o de H.P. Lovecraft. O autor de histórias de terror e suspense, como O caso de Charles Dexter Ward, explorou como poucos o medo em seus contos. Ele também conseguiu a façanha de misturar realidade e ficção a ponto de confundir seus leitores: o livro Necronomicon, por exemplo, é invenção sua, mas muitos acreditam que ele realmente existe. Ele foi colaborador frequente de Weird Tales, mas conseguiu sobreviver a duras penas com o que ganhava por seus contos.

Raymond Chandler (criador do carismático detetive Philip Marlowe, de O longo adeus) e Dashiell Hammett (a mente por trás de outro detetive famoso, Sam Spade, protagonista de O falcão maltês) também começaram nas revistas pulp. Contos policiais eram lidos avidamente e garantiam sustento básico. Ambos atingiram certa fama ainda em vida e até hoje êm seus livros reimpressos.

No campo da ficção científica, Astounding Science Fiction, Planet Stories e outras publicações foram as responsáveis pelo lançamento de nomes como Isaac Asimov (autor da trilogia Fundação e do clássico Eu, robô), Ray Bradbury (autor de Fahrenheit 451) e Arthur C. Clarke (criador da história original de 2001: Uma odisseia no espaço e da sensacional coletânea de contos O vento solar – esgotado). Esses escritores também conseguiram atingir notoriedade quando vivos e se estabeleceram como referência no gênero.

Mesmo autores um pouco mais velhos, como H.G. Wells (de A guerra dos mundos), Arthur Conan Doyle (criador de Sherlock Holmes) e Joseph Conrad (criador da novela Coração das trevas), chegaram a publicar alguns trabalhos de ficção nas primeiras revistas pulp. Hoje, todos eles têm legiões de fãs. Muitos são considerados “escritores cult”, como o próprio Lovecraft. Além disso, servem de referência para gerações de autores, que vão de William Gibson (criador de Neuromancer) a Stephen King (uma máquina de produzir best sellers, como Carrie, a estranha e A coisa).

O FUTURO
A literatura produzida nas revistas pulp influencia escritores, diretores (Quentin Tarantino batizou seu filme de Pulp Fiction(esgotado) em homenagem a esse tipo de histórias) e tem ecos na cultura popular. Mais do que isso, elas continuam vivas.

A revista Timothy McSweeney's Quarterly Concern, publicada pela primeira vez em 1998, apresenta contos de escritores famosos, como Stephen King e David Foster Wallace, em formato pulp. Mas ela é somente um exemplo de árias tentativas mundo afora.

No Brasil, é possível citar a coleção Ficção de polpa: coleção de contos editada por Samir Machado de Machado, que já está em seu terceiro volume. A série, que apresenta capas divertidas (retratando as famosas donzelas em perigo e os vilões terríveis), é lançada em formato de livro, mas mantém o espírito original.

Nas bancas, representa o gênero a recém-lançada Lama. Ainda em seu primeiro número, ela traz contos de autores brasileiros sobre terror e mistério, tudo com um tratamento editorial que mescla palavras, imagens e desenhos. Fabiano Vianna, editor da publicação, já escrevia fotonovelas em seu site, Crepúsculo, mas logo decidiu fazer algo a mais: “Era para ser uma revista apenas de fotonovelas, mas pensei que poderia aproveitar e convidar amigos escritores que eu conhecia para participar”. Assim nasceu a Lama, como uma proposta de base pulp, mas que segue seu próprio caminho. “Acredito que vivemos hoje em meio a essa convergência das mídias. Arte, design, literatura, cinema... Todos os sentidos presentes”, explica o editor. E a revista promete continuar marcando presença nas bancas, com um segundo número já a caminho. “Esperem edições cada mais sujas ”, promete Vianna.

André Sollitto

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Livreiro




Revista Lama: Yes, nós temos pulp
Postado por Douglas Duarte em 17 de setembro, às 13:44

Seguindo as pegadas de Raymond Chandler, Ray Bradbury e Dashiel Hammet, papas do formato, mas também no rastro de autores tão díspares como Machado de Assis, Monteiro Lobato, Viriato Corrêa e Afrânio Peixoto, chega em breve às bancas e espaços de venda mais misteriosos e suspeitos a revista Lama. A ideia é abrir um espaço para folhetins, fotonovelas, romancetes policiais e histórias fantásticas, gêneros por excelência dos pulps, originalmente livros de bolso baratinhos editados em papel barato (ou “polpa”) nos EUA e que também fizeram época no Brasil com títulos como X-9, Lupin, Mistério Magazine e Detetive.

Quem toca o projeto é um pessoal dos melhores, escritores que já transitam à vontade pelos becos sujos e linhas duras do gênero: à frente o editor Fabiano Vianna, das divertidíssimas fotonovelas Crepúsculo, além da escritora e folhetinista Ana Paula Maia, a ornitóloga e vampiróloga Martha Argel, a especialista em caninos sangrentos Giulia Moon, além de gente do calibre de Luiz Felipe Leprevost, Assionara Souza, Daniel Gonçalves, Simone Campos nos textos e estúdios bacanas como o Pianofuzz, Sebográficos e Mopa nos traços. Uma clicância intensiva pelos links leva o leitor a uma bela viagem prévia pela atmosfera do que estará entre capa e capa da Lama. Abaixo, um trailer-tira-gosto da revista.

Baratos da Ribeiro






Você vai se arrepiar no Clube da Leitura desta terça, dia 17 de novembro
por Maurício

NA NOITE ESPECIAL DEDICADA À LITERATURA DE HORROR
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Humberto Moura Neto e Martha Argel, que organizaram a antologia “O Vampiro antes de Drácula”, reunindo os contos que abriram caminho para Bram Stocker, serão os jurados que ajudarão a eleger os textos mais horripilantes lidos na noite.
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TEREMOS AINDA A PARTICIPAÇÃO ESPECIAL dos autores que colaboraram com o número de estréia da REVISTA LAMA, dedicada à literatura fantástica de modo geral. Gestada num escritório em Curitiba, a revista, que conta com autores de todo o país, acaba se ser lançada em São Paulo e no Rio, num evento que aconteceu sábado último, no Cinematheque. (Leia mais detalhes sobre a publicação adiante.)
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O MOTE DO DESAFIO DESTA RODADA,
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portanto, é a literatura de horror como um todo. A título ilustrativo, publicamos no blog do Clube um texto lido pelo Rafael Pinho na noite de 15 de setembro. Para brincar com o preconceito da galera com relação ao universo dos jogos de RPG (que ajudaram em muito a popular os vampiros nos anos 90), Rafael abriu um livro da série “Vampiro: A Máscara” (hoje em dia conhecida como World Of Darkness) ao acaso e deu sorte. “Abandone todas as esperanças” é tenebroso e divertido conto escrito por Robert Hatch para introduzir o leitor à figura do Nosferatu, o sangue-suga que se esgueira pelos esgotos e tem o aspecto monstruoso explorado pelo filme de F. W. Murnau.
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www.baratosdaribeiro.com.br/clubedaleitura
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DISTRIBUIREMOS MAIS PRÊMIOS do que o usual. Em cada rodada, faremos uma votação popular para eleger 1 dos textos lidos, enquanto o “júri” especializado (que chique, hein?) escolherá um outro.
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Então, esse será (mais ou menos) o cronograma da noite:
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1) leitura de trechos de romances ou contos de terror de autores consagrados - aberto a todos os presentes.
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2) leitura de contos escritos pelos frequentadores do Clube com a temática de terror.
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3) mesa redonda com Martha Argel, Humberto Moura Neto e o pessoal da Revista Lama.
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4) os escritores que integram a mesa redonda lêem um trecho de sua obra.
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5) anúncio dos prêmios para os melhores textos lidos na primeira e na segunda etapa.
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SEBO BARATOS DA RIBEIRO
Rua Barata Ribeiro 354, Copacabana
Tels. (21) 2256 8634 ou 2549 3850
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www.revistalama.com.br
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EDITADA POR FABIANO VIANNA, A REVISTA LAMA
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lança os holofotes sobre a literatura “pulp” brasileira. As pulps, muito populares no início do século XX nos EUA eram um tipo de entretenimento rápido, sem grandes pretensões literárias, mas que faziam a alegria dos fãs do gênero. Os leitores acompanhavam a trama, ansiosos pelos próximos capítulos. Muitos de seus personagens migrariam para as Histórias em Quadrinhos com o tempo. Grandes autores escreveram para pulps no início de suas carreiras, como Raymond Chandler, Ray Bradbury, Edmond Hamilton e Dashiel Hammett. Isaac Asimov fez fama na Astounding Science Fiction. “Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo está em nosso cânone acadêmico e faz a ponte entre o folhetim de aventura do século XIX e essa literatura. Considerado o primeiro romance policial do Brasil, “Mysterio”, foi escrito por intelectuais brasileiros de renome como Viriato Corrêa, Afrânio Peixoto e Coelho Neto. Além de Medeiros e Albuquerque, que publicou o primeiro livro de contos policiais da literatura brasileira, chamado Se eu fosse Sherlock Holmes, em 1922 – ano da Semana de Arte Moderna em São Paulo e da estréia de “Ulisses”, de Joyce. Hoje, o gênero está permutado e misturado na cultura pop em inúmeros sites, filmes, blogs e séries de tv, como Criminal Minds, Dexter, C.S.I., Lost, Sobrenatural, True Blood. O pulp nunca esteve tão presente em nossas vidas.
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Veja no You Tube o “trailler” da revista:
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http://www.youtube.com/watch?v=N8M5N7MqQcA&feature=player_embedded
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A revista Lama pretende instigar a literatura “pulp” brasileira, publicando contos policiais, de ficção científica, de terror ou de realismo fantástico assinados por jovens e talentosos autores:
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Ana Paula Maia, Luiz Felipe Leprevost, Rodriane Dl, Daniel Gonçalves, Giulia Moon, entre outros.
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http://www.crepusculo.com.br/
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É a página que reúne outros trabalhos de Fabiano Vianna. Vale a pena conferir.
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CONVERSADO COM ALGUNS AUTORES DESCOBRI
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que eles consideram o rótulo um pouco reducionista, e preferem a expressão “literatura fantástica”, que de fato corresponde melhor àquilo que caracteriza o trabalho dessa turma: a radicalização do exercício imaginativo, porém a serviço de enredos envolventes. Mas como nesta descrição cabem tanto a ficção científica quanto os épicos ambientados em passados habitados por criaturas folclóricas, muitos adotam o termo “dark fantasy”, para diferenciar a literatura de tons mais sinistros, onde o medo e o suspense dão o tom, onde os monstros são personagens mais interessantes do que os heróis.
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No lugar do terror, os autores consideram o “horror” uma palavra mais poderosa para descrever os lugares por ondem querem nos levar. Que seja. Mais do que os filmes para adolescentes dos anos 80 e produções B a la Roger Corman, a principal referência para esta turma é a literatura vitoriana – ou seja, o movimento simbolista, o fascínio pelos mistérios do oriente e a sensibilidade romântica. Curiosamente, apesar dos avanços tecnológicos que remodelavam o mundo, a literatura da época vislumbrou possibilidades terríveis, conjugando superstições com ciência médica e atualizando criaturas medonhas do folclore para os novos cenários urbanos. Afinal, não deve ser por acaso que o vampiro se transformou em uma figura cada vez mais sedutora à medida que o sexo passou a ser exercitado com mais liberalidade. Em tempos de AIDS, essa figura tão sensual quanto fatal parece vir bem a calhar para escritores interessados no que nos ameaça, nos apavora.
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Neste repeteco, vamos aprimorar a experiência que fizemos em setembro, quando Martha Argel e Giulia Moon estiveram no Sebo Baratos da Ribeiro, lançando seus mais novos romances estrelados por vampiros bem mais mal comportados do que esses do “Crepúsculo” e outros best-sellers mais açucarados que andam arrebatando legiões de adolescentes.
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Não que a literatura vampiresca tupiniquim também não faça sucesso. A literatura de André Vianco, por exemplo, que vendeu nos últimos 8 anos 300 mil exemplares, foi o tema da última Noite do Terror do PlayCenter, dando prova do poder mercadológico deste filão. (Seu primeiro livro foi escrito em 3 meses e sua primeira tiragem foi bancada pelo próprio autor, que torrou nela a indenização que recebera quando perdeu o emprego de atendente de telemarketing!)
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Mais informações sobre o funcionamento do Clube da Leitura aqui:
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http://www.baratosdaribeiro.com.br/clubedaleitura/como-funciona-uma-reuniao-do-clube
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Omelete


http://www.omelete.com.br/quad/100023584/Nova_revista_brasileira_reune_contos_pulp_ilustrados.aspx
Nova revista brasileira reúne contos pulp ilustrados

Revista Lama traz histórias de nomes como Simone Campos, Ana Paula Maia, Giulia Moon, Martha Argel

19/11/2009
Érico Assis

A literatura pulp, apesar de já ter tido seu momento de glória também no Brasil, anda meio esquecida por aqui. Mas isso não vai ficar assim, se depender da revista Lama, iniciativa de autores de Curitiba, no Paraná.

Lançada no mês passado, a Lama #1 traz contos de "fantasia, suspense e terror", como anuncia a capa. Ao invés do papel ruim do qual o pulp tirava seu nome, tem papel couché e formato de revista, com 56 páginas coloridas. E bem coloridas.

O primeiro conto é, na verdade, uma fotonovela - bem diferente das tradicionais, pois tem bastante pós-produção e experimentalismo. Todas as outras histórias são acompanhadas de uma ou mais ilustrações, em estilo de quadrinhos ou de autoria de bons estúdios de ilustração brasileiros.

A maioria dos autores da primeira edição, como Simone Campos, Ana Paula Maia, Giulia Moon e Martha Argel, já tem livros publicados. A publicação será trimestral.

Homem Nerd



http://www.homemnerd.com.br/resenha.php?id=8513

Revista Lama n°1

Álvaro A. L. Domingues
01/12/2009


Lama é uma revista pulp especializada em Fantasia, Suspense e Terror. Pulp é um tipo de publicação, surgida nos anos 20, feita com papel barato (aí o nome pulp, polpa), visando principalmente a diversão.

O projeto gráfico procura lembrar uma revista antiga, com as marcas do envelhecimento de suas páginas. Os textos são enriquecidos por ótimas ilustrações.

Este primeiro número é aberto pela fotonovela policial “17:30 e Já é Noite em Curitiba”, de autoria de Fabiano Vianna. Fotonovelas foram bastante populares nos 50 e 60, percorrendo as páginas das revistas femininas e algumas publicações exclusivamente voltadas para este tipo de narrativa. “17:30”, apesar de resgatar um gênero antigo, busca inovar na linguagem, rompendo o modelo de “quadro a quadro” característico. As cenas se superpõem sem que haja um limite claro entre elas. As falas dos personagens e a narração aparecem como se fossem tecladas numa máquina de escrever. O recurso funciona bem para criar o clima da narrativa, mas algumas vezes dificulta a leitura.

A seguir temos o conto “Teu Sangue em meus sapatos engraxados”, de Ana Paula Maia (autora de A Guerra dos Bastardos). Trata-se de um delírio descrito em primeira pessoa de alguém que vaga pela noite. Não temos outra informação a não ser o que ele fala. E fala em monstros que o perseguem e de seus sapatos sujos de sangue. Ao leitor, conduzido pelos desvarios do narrador, só resta imaginar o que poderia estar acontecendo.

Giulia Moon nos brinda com “Gueixa”, um conto com sua personagem Kaori. Trata-se de um bem conduzido conto, onde uma gueixa cuida de seu cliente. Um texto levemente erótico, conduzido como se fosse um solo de violino, que de repente é quebrado.

“Mórbidas Confissões”, de Assionara Souza, conta a história de um relacionamento tumultuoso entre um estudante e seu avô, que conduzem a uma vingança.

“Dr. Hannibal apaixonado”, de Luiz Felipe Leprevost, é uma história de um amor mórbido de um psicopata canibal por sua vítima, contado do ponto de vista do assassino.

Daniel Gonçalves nos conta em “No silencio da mata” a trágica perseguição na Mata Atlântica de alguns excursionistas a um animal aparentemente desconhecido. Desta vez não foi o gato que foi morto pela curiosidade...

“Álbum de Família”, de Martha Argel nos conta história de alguém que tem dois pais e duas mães, ou melhor, um pai e o resto...

“O Aleph de Botafogo” de Simone Campos, recria “O Aleph” de Borges no Rio de Janeiro, de uma forma muito bem humorada.

A Idéia de Fabiano Vianna, e literalmente a história de uma boa idéia. Como podemos ter certeza de que a idéia que nos encomendaram era realmente boa?

Uma carta que é entregue a um morto é o ponto de partida para o conto “A carta”, de Emanuel R. Marques.

Em “O Anjo da USP”, de Gisele Pacola, uma conversa entre duas amigas conduz a um relato sobre um violento caso de estupro. E o criminoso pode ser qualquer um.

Fechando a edição há uma pequena coleção de micro e mini contos de Rodriane DL.

Como se pode notar, Lama traz ao leitor realmente uma grande variedade de temas indo do policial à fantasia, passando pelo terror sutil e o horror cru. Maiores informações, clique aqui.

Almanaque Virtual


Almanaque Virtual

Análise: Revista Lama
http://almanaquevirtual.uol.com.br/ler.php?id=22462&ANALISE:+REVISTA+LAMA

Por Daniel Russell Ribas
01/12/2009

Chegou às lojas especializadas a revista Lama que tem a ambiciosa missão de trazer as publicações de mistérios descompromissadas brasileiras para o século 21. Com forte apelo visual, Lama poderia ser descrita como o equivalente em papel do projeto Grindhouse. Para quem não sabe, Grindhouse foi um projeto dos cineastas Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, em que cada um dirigiu um longa-metragem baseado na estética de produções de gênero B dos anos 70. No Brasil, os filmes foram separados em Planeta Terror e À prova de morte (ainda inédito!). O editor e criador da Lama, Fabiano Vianna, não nega as semelhanças. Nem poderia, pois, com as devidas diferenças, a proposta é a mesma. É uma sofisticada homenagem às edições baratas de histórias sensacionalistas, inspirando-se no talento que dessas emergiu para reunir um grupo de colaboradores de renome e recriá-las com uma visão atual. Em suma, mantendo o espírito, remetendo esteticamente ao antigo e com cuidado de produto novo.

O time de autores deste número é eclético, tanto em estilo quanto em conteúdo. Há desde escritores assumidamente do universo fantástico, como as especialistas em textos vampirescos Martha Argel e Giulia Moon, a autores sem tradição no gênero, como Simone Campos e Luiz Felipe Leprevost. Além dos veteranos, nomes novos como Daniel Gonçalves e outros ainda pouco conhecidos como Gisele Pacola e Rodriane DL. A mistura, inusitada a princípio, funciona bem. Os contos têm personalidade própria e utilizam de forma livre a premissa presente na capa: Fantasia, suspense & terror. Logo, há uma unidade que destaca o conjunto e não partes individuais; uma falha comum em antologias com colaboradores vindos de obras tão distintas entre si.

Vianna apresenta dois trabalhos seus: 17 e 30 já é noite em Curitiba, uma fotonovela, e A ideia, um conto. Se o primeiro é policial B com estética inspirada em Dave McKean e Frank Miller, o segundo é uma narrativa leve com toques de Richard Matheson. Em ambos, o autor extrai bastante humor do absurdo das situações. É óbvio que ele conhece, ama o gênero e se diverte muito com ele, sensação que passa para os leitores, que se tornam cúmplices da brincadeira.

As escritoras Ana Paula Maia e Giulia Moon se destacam em retratar com beleza tramas violentos, respectivamente em Teu sangue em meus sapatos engraxados e Gueixa. Se Teu sangue... prende pelo peso das metáforas e imagens, Gueixa se vale das descrições belas e da delicadeza da narrativa, mesmo em seu final chocante.

Simone Campos e Assionara Souza enfatizam o fantástico no cotidiano em O Aleph de Botafogo e Mórbidas confissões, mostrando como o inesperado pode ser visto e apreciado por àqueles dispostos a observá-lo.

Daniel Gonçalves e Emanuel R. Marques, responsáveis respectivos por No silêncio da mata e A carta, contam boas histórias de fogueira em formato de prosa. A primeira, uma fatídica caçada, e a segunda, uma assombração em uma pequena vila portuguesa.

Martha Argel e Luiz Felipe Leprevost bebem do universo pop para a reinterpretar dois monstros conhecidos, em Álbum de Família e Dr. Hannibal apaixonado. Enquanto Argel é mais fiel ao mito em uma construção sólida e com o humor negro que lhe característico, Leprevost se liberta da fonte de origem, em um misto de poema e carta de amor engraçado, erótico e sentimental.

Os textos O anjo da USP, de Gisele Pacola, e Caramelos estragados, de Rodriane DL, encerram a antologia, em narrativas que valorizam mais clima do que ação. Ambos não possuem o mesmo impacto dos anteriores, mas brincam com expectativa e clima, características fortes do pulp, de maneira eficaz e instigante.

No time de ilustradores, encontramos outra benvinda diversidade. Os ilustradores e estúdios Pianofuzz, Mopa, Yan Sorgi, Francisco Gusso, Daniel Gonçalves, Firmorama, Sueli Mendes e Bruno Oliveira extraem a dose exata de bizarro e entretenimento em suas interpretações para os contos-base. O embate entre crueza e lirismo de Pianofuzz para Teu sangue... casa com a contradição presente no texto. A simples e elegante ilustração de Mopa para Gueixa é eficaz e misteriosa. As pernas abertas de Yan Sorgi para Mórbidas confissões anunciam a decadência que está por vir. O canibal e sua musa criados por Francisco Gusso para Dr. Hannibal apaixonado são divertidos, belos e grotestos na medida. Daniel Gonçalves já um excelente trabalho em mostrar uma criatura medonha sem revelar sua forma, envolvendo-a em sombras para No silêncio da mata e volta a trabalhar com insinuação em Álbum de família, com efeito humorístico e A carta, em imagem que remete a que pode ser um fantasma. Sueli Mendes pega o aspecto juvenil e pop de A ideia e O anjo da USP, levando as tramas para o universo de quadrinhos que lembra Terry Moore. Firmorama homenageia a ficção B dos anos 50, onde a rotina escondia terríveis verdades, em O Aleph de Botafogo. Por fim, Bruno Oliveira permeia de estranheza e belas imagens quase infantis uma paisagem desolada, ressaltando o caráter aberto dos micro-contos de Rodriane DL.

A revista é trimestral e aceitará colaborações de autores inéditos a partir do terceiro número (o segundo já foi fechado). No Rio de Janeiro, exemplares estão disponíveis na livraria Blooks (no Unibanco Arteplex), a loja Cucaracha, em Ipanema e o sebo Baratos da Ribeiro.

Serviço:
Autores: Fabiano Vianna, Ana Paula Maia, Giulia Moon, Assionara Souza, Luiz Felipe Leprevost, Daniel Gonçalves, Martha Argel, Simone Campos, Emanuel R. Marques, Gisele Pacola, Rodriane DL
Páginas: 58
Preço: R$ 10